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Ontem, acabadinha de entrar em casa, ainda de casaco, carteira e guarda-chuva:
- Joana, anda aqui! Preciso de ajuda!
(Entro na sala.)
- Sim?
- Explica-me o que foi a Conferência de Berlim.
- Porque partes do pressuposto que eu sei isso?
(...)
- Porque és uma croma.
A T. veio mostrar-me o seu livro de português para eu ver o que já tinha dado do Auto da Barca do Inferno e os apontamentos que tinha tirado na aula. Fiquei genuínamente surpreendida, porque ela tinha aquilo tudo escritinho:
- Ui! Muito bem! És a única que me tira apontamentos de jeito.
Entretanto, ouvi-a contar isso à minha mãe e, depois, ao meu pai. Mas ao jantar:
- Joana, não queres contar à mãe e ao pai o que eu faço que mais nenhum dos teus alunos faz?
- Tu já contaste!
- Conta melhor!
Desde que escrevi este texto que, ao mínimo reparo ou reclamação que faço, levo com um:
- Não achas que estás a tratar mal o teu melhor presente?
Ou qualquer coisa do género.
O E. vem cá a a casa e a T.:
- Então tu davas um rim por um carro?
- Não é assim só um carro. É um carro mesmo fixe.
- E quê, davas um órgão?
- Também não é um órgão qualquer. Tenho dois!
- Porque precisas deles.
- Há quem só tenha um.
- Mas isso é porque teve de ser. Os rins são importantes! Filtram as impurezas.
(...)
- Pois, mas eu só como purezas.
Dois cómicos que eu fui arranjar.
Enquanto ela anda atrás de mim, sempre com as mesmas perguntas, eu digo:
- És uma chata!
- O quê?
- És uma chata!
- Já viste que andas sempre a chamar-me isso?
- Bem, isso é porque, há certas alturas, em que és uma chata.
(...)
- Para alguém que gosta tanto de ler e escrever parece que só conheces um adjetivo.
(Saída teatral).
É bem feita, que é para eu aprender.
Nas últimas quatro noites, ou seja, desde que a escola começou, a história é sempre a mesma. Chega aí às onze e ela abre a minha porta e diz:
- Não tenho sono!
Achei normal no domingo, na segunda, até na terça, mas, considerando que se levanta bastante cedo, pensei que por agora já andasse a cair de sono a partir das dez e meia. Ontem, quando volta a abrir a porta, eu disse logo:
- Deixa-me adivinhar: não tens sono?
- Não!
- Outra vez?
- É verdade! É a minha tragédia!
Contei à T. a resposta que uma pessoa, que eu conheço pessoalmente e a quem sempre tratei por tu (e vice-versa), mas que já não vejo há uns anos, me enviou ao receber um convite no Facebook para gostar da página do blogue. Foi assim: "não estou interessado em nada que venha de si, mas obrigada na mesma".
De imediato ela responde:
- Mas quê, andas a vender champôs?
Quanto à pessoa em causa, à qual desconheço as maldades que lhe causei, muitas felicidades, que eu, pelo menos, não sou pessoa de rancores.
Hoje, durante a tarde, estando a minha mãe deitada no sofá:
Eu - Mãe, não durmas. Depois logo não consegues adormecer.
T. - Tu também dormiste ontem à tarde.
Eu - E estou muito arrependida!
T. - O importante é que te fez feliz.