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Hoje é o Dia Mundial do Animal! Eu nunca percebo as pessoas que abandonam os seus animais domésticos para irem de férias e lamento ser necessária uma lei que penalize os maus tratos a animais. Mas não vou pôr-me aqui com teorias. Vou antes contar uma história. Portanto, é preparar que isto vai ser longo.

 

Tive uma companheira que perdi em julho do ano passado, ao fim de 15 anos. Chamava-se Bianca e era arraçada de caniche, toda branca. Quando a tive, ela tinha 3 meses e eu 10 anos. Era o último filhote de uma ninhada e não era suposto ser minha. A mãe pertencia aos pais dos meus padrinhos e já a tinham prometido a um conhecido (foi quem escolheu o nome), mas eles apegaram-se especialmente a ela e preferiram que ficasse para mim por nos conhecerem bem. (Ao tal senhor: desculpe lá, são azares da vida.) Os meus pais acederam depois de umas horas de insistência. Não foi muito difícil e, para ser sincera, passei aquelas horas a insistir só porque sim. Nunca achei que deixassem. Sei agora que hesitaram pouco porque um cão é uma tremenda responsabilidade. Reclamei ao longo dos anos, como é claro, sempre que tinha que lhe dar banho ou passeá-la. Na verdade nunca deu muito trabalho. Era um cão bestial! Adaptou-se lindamente.

 

Para mim é impossível lembrá-la como apenas um cão. Foi como perder um membro da família. Às vezes, nos últimos tempos, quando a velhice começou a ser evidente, acordava de noite e ia vê-la, só para ter a certeza que ainda estava ali. Que estava tudo bem. Chorei a morte dela com anos de antecipação e ainda hoje queria mais um dia, mais umas horas. Pelo menos mais uns minutos para eu poder chegar a casa e fazer-lhe uma festa pela última vez. Ela era tão mimalha, sempre à procura de festas. A culpa foi toda minha e não estou minimamente arrependida. Foi o melhor presente que alguma vez recebi. Não fazia anos, nem era Natal e foi de graça. Antes de ela morrer, eu dizia muitas vezes que só queria outro cão se um dia tiver filhos porque sei como é bom para os miúdos. Mesmo que me venha a roer os sapatos e a fazer gastar pequenas fortunas no veterinário. Mesmo quando estiver cansada e não me apetecer ir passear o cão à rua ou quando quiser ir a algum lado e não tiver quem fique com ele. Não há nada que lhes possa dar que supere o amor, a lealdade e o companheirismo de um cão.

 

No dia em que fiquei sem a Bianca, o meu discurso mudou. Afinal quero um cão já. Mesmo que me roa os sapatos. Ou até os livros! Nem todas as pessoas compreendem, os meus pais, por exemplo, que agora já não cedem tão facilmente, mas faz-me mesmo falta. Com a Bianca aprendi que o cão é mesmo o melhor amigo do Homem. Sinto falta disso. Dessa companhia que nunca desilude, questiona ou vai embora. Custou-me muito quando a perdi, ainda custa, mas não trocava a dor dessa perda por nunca a ter tido e sei que vai ser sempre assim, por muitos companheiros de quatro patas que tenha na vida.

 

A foto dela ainda é o fundo do ecrã do meu telemóvel. Às vezes, as minhas alunas vêem e perguntam se é o meu cão. Quando digo que ela já morreu, pedem logo desculpa pela pergunta, mas a verdade é que não me importo. Não teria a foto se me importasse. É uma forma de memória, embora a maioria não seja tão visível, que vou sempre ter. Isso e, claro, aquela coisa tão portuguesa em que nos sentimos tristes por um dia termos sido felizes: saudade.

Foto tirada pela T., que pela primeira vez na vida se viu sem um animal doméstico.

 

(Aos valentes que se aguentaram até ao fim deste texto enorme, muito obrigada. Prometo recorrer mais ao meu poder de síntese nos próximos dias.)

 

Nota posterior: não, afinal não é dia mundial do cão (esse é amanhã). Deve ser dia mundial das pessoas nabas que não sabem ver um calendário.

publicado às 11:26


4 comentários

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De Mar Português a 04.10.2014 às 01:01

Muito obrigada, Maria! Sabia que ias ser valente :P Compreendo também o que dizes - nem todos os momentos da vida nos permitem o luxo de ter um cão. Mas que, sempre que possa,vou querer. Agora, por exemplo, podia, mas a verdade é que quando eu sair de casa seria uma guerra com a minha irmã. Para além, claro, que os meus pais não querem.

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Joana

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Neste mar

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