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Então é assim que acho que isto vai correr:
Melhor Filme - Boyhood - já conversámos sobre isto, não é verdade?
Melhor Ator - Ed Redmayne (A Teoria de Tudo) - fiquei fã da sua voz de tenor em Os Miseráveis e acho que o talento que revela neste filme vale definitivamente um Oscar.
Melhor Atriz - Julianne Moore (O Meu Nome é Alice) - finalmente!
Melhor Ator Secundário - Edward Norton (Birdman) - aí com uns dezasseis anos de atraso.
Melhor Atriz Secundária - Patricia Arquette (Boyhood) - não percebo!
Melhor Realizador - Richard Linklater (Boyhood) - e aqui acho mesmo que merece.
Domingo é dia de Óscares e eu estou aqui com uma dúvida quanto ao grande favorito a Melhor Filme - Boyhood, de Richard Linklater.
Para mim, fica aquém do que prometia. Por um lado, não acho que seja aquele filme que prenda invariavelmente o espetador ao ecrã e, considerando que o objetivo é retratar a vida normal, aquele jovem está longe de ser o jovem médio e ainda mais longe de ser o típico jovem americano. Só que, por outro lado, o comprometimento necessário para rodar um filme durante doze anos, seguindo sempre a mesma linha criativa, e a simplicidade com que retrata o quotidiano deixam-me dividida. E, claro, aquilo que talvez mais valha um Óscar, a ideia base, que mostra que as nossas vidas, de qualquer pessoa, davam realmente um filme.
Afinal, talvez a vitória não seja assim tão descabida, se considerarmos mais o conteúdo do que a forma..
Este não foi propriamente um ano em que tenha ido muito ao cinema, ou sequer visto muitos filmes, mas a escolha para mim é mesmo simples. Os Maias, de João Botelho. Já falei disso aqui. Da perfeição do elenco, da atualidade da obra, do guião que é a escrita de Eça, da inteligência do realizador ao utilizar os poucos recursos a seu favor, pintando uma Lisboa surreal, em que todos ostentam e se arrogam, mas que formam uma sociedade frágil e decadente. Tudo isto me faz escolher Os Maias, mas a principal razão é outra. Eça de Queirós é um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, não só pela sua literatura crítica e interventiva, com descrição minuciosa e visualismo cuidado, histórias complexas e intrincadas, expoente máximo da corrente realista, mas, também por a sua obra se manter, ainda que tristemente para todos nós, atual, com um país que continua a reboque das grandes potências europeias, com pessoas que continuam a viver de aparências e ilusões e que (e aqui, penso, a tendência começa a inverter-se) com uma cultura estrangeirista, que apenas valoriza o que há fora, com absoluto desvalor do que é nosso. Ainda que o filme não possa, de forma alguma, substituir a leitura do livro, Botelho trouxe Eça ao grande público e não o fez de qualquer forma, mas com a mestria, o realismo e a justeza que um dos maiores clássicos da literatura portuguesa merece.
Não sei! Nunca detestei um dos seus filmes, mas também não acho que seja caso para tanta festa. Ontem, vi (outra vez) a primeira parte do Kill Bill com o E. Há uma fulana que entra num restaurante e mata umas quantas pessoas, todas especialistas em artes marciais, para depois matar uma última pessoa, a quem, com um golpe de espada, tira o escalpe. (Também já vi os Sacanas Sem Lei. Que raio de fetiche tem este realizador com escalpes?) Mas o meu problema nem são as histórias inverosímeis. Acho até que alguns dos filmes tem muito potencial. Reconheço que a técnica cinematográfica é perfeita, as interpretações são, em regra, excelentes e as escolhas musicais são quase sempre boas. O que me chateia mesmo é o sangue. Acaba sempre com tudo a explodir em jatos de sangue.
Sim, tenho definitivamente um problema com Tarantino. Não o percebo.
Ontem foi a première do terceiro filme da saga The Hunger Games e eu tenho a fã número um cá em casa.
Pensei que a miúda não ia dormir. Até já queria comprar os bilhetes (em Portugal estreia dia 20).
Mostrou-me fotos da Jennifer Lawrence de todos os ângulos possíveis. Eu disse "hum, está bonitinha". Ela fez cara de má e disse "chiu!". Parece que ofendi a santa. Tenho umas Avé Marias para rezar.
Vi o filme Charlie e a Fábrica de Chocolate pela primeira vez. Johnny Depp não esteve no seu melhor, mas o jovem Freddie Highmore, que interpreta Charlie, é muito genuíno e cada vez gosto mais das produções de Tim Burton. Já tinha ouvido falar do filme, mas não fazia ideia que o principal tema é a educação. Ou melhor, a má educação. Veruca é uma menina mimada e que não aceita um não como resposta; Violet foi educada para vencer e não olha a meios para atingir os seus fins; Augustus é um rapazinho guloso e invejoso, que come dezenas de chocolates por dia; e Mike é agressivo, armado em esperto e viciado em videojogos, o que fez com perdesse a imaginação - todos são engolidos pela fábrica de Wonka, até que apenas o humilde e carinhoso Charlie resta.
Estes exageros educativos existem na realidade e chama-me, em particular, a atenção a critica ao excesso de meios informáticos e televisivos. Devo salientar que eu cresci a ver filmes - os agora chamados clássicos da Disney - e que não sou daquelas pessoas fundamentalistas que defendem que as crianças não devem ver televisão ou jogar videojogos. Acho, isso sim, que tudo deve ser feito na medida certa e que realmente, e como dizem os Oompa Loompas, o excesso mata a imaginação e habitua o cérebro a um consumo imediato, em que já não pensa, apenas vê.
Infelizmente, não encontrei legendado, apenas a dobragem brasileira, mas aqui fica o vídeo, que é bem interessante, tanto para miúdos como para graúdos.
Depois de ver Os Maias, fico a pensar como um baixo orçamento não é motivo para deixar as grandes obras primas no papel. Há lugar para o cinema em Portugal. Então, o que eu queria mesmo, era ver o Memorial do Convento adaptado à sétima arte. Isto é sempre uma afirmação difícil, mas acho mesmo que foi o melhor livro que já li. Não vou agora pôr-me aqui a fazer uma análise detalhada. Sei que a adaptação é mais difícil, mas deixo isso para quem percebe do assunto.
A quem achar que não vale apena, vou deixar aqui a minha visão sobre um dos segmentos da obra: Baltazar e Blimunda. Ele é maneta, ela é vidente. Ele constrói uma máquina proibida, ela recolhe as vontades que a farão funcionar. Ele perde-se, ela procura-o. Romeu e Julieta. Tristão e Isolda. Elizabeth e Mr. Darcy. Não há história ou amor como o de Baltazar Sete Sóis e Blimunda Sete Luas. Duas faces da mesma moeda. O amor perfeito. Aquele que não cobra, que compreende, que se reconhece, que se basta, que completa, que acredita, que não desiste. O génio de Saramago, revelado também num lado mais doce.
Agora digam lá se isto, só por si, já não merecia um filme?
No Verão que marcou a passagem do meu 11º para o 12º ano, deu na televisão uma série brasileira que adaptava Os Maias. Como nessa altura a obra queirosiana integrava o programa do 12º, fiz de tudo para ver o máximo de episódios. Vi ainda uma boa parte, mas depois, coisa mais chata, fui de férias e não vi o final. Mais tarde, quando li o livro, achei que a série se centrava muito na história amorosa, o que faz com que, ainda hoje, aqueles sejam para mim os rostos de Maria Monforte, Pedro, Carlos e Maria Eduarda da Maia.
Agora no cinema, a obra foi, naturalmente, mais condensada, mas tem uma característica que a adaptação televisiva não tinha, pelo menos de forma tão vincada: a crítica social. Está lá tudo e, ainda que só quem leu verdadeiramente a obra prima de Eça possa perceber inteiramente a sua dimensão, a crítica é percetível mesmo ao mais distraído dos espetadores: um Portugal descaracterizado de si próprio, provinciano e a viver acima das suas possibilidades. Na verdade, tal intenção, e não apenas a de contar os amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda, é visivel, desde logo, na adoção não só do título, como também do subtítulo da obra: Os Maias - Cenas da Vida Romântica. Se no que toca ao texto não houve grandes trabalhos - é o de Eça, sem tirar nem pôr, no seu estilo inconfundível - nos cenários exteriores o realizador deixa a sua marca, ao torná-los muito irreais em contraste com os interiores, o que contribui para a dimensão dramática e a demonstração da fragilidade da sociedade lisboeta.
O elenco também merece destaque, em especial o ator Pedro Inês, pela sua interpretação de João da Ega. E, claro, João Botelho, por trazer ao grande público uma das obras maiores da literatura portuguesa, sem perder a visão do autor, mas sem deixar de lhe dar um cunho próprio. É desta cultura - aquela que preserva a própria cultura - que o país tem falta.
Carlos da Maia (Graciano Dias) e Maria Eduarda (Maria Flor).
Carlos da Maia (Graciano Dias) e João da Ega (Pedro Inês).
Afonso da Maia (João Perry) com o seu gato, Reverendo Bonifácio.
O cenários da Lisboa oitocentista.
Hoje estreou a adaptação de Os Maias, de Eça de Queirós, no cinema. Se tiver metade da qualidade do livro, será um filme daqueles, mas independentemente disso já vale pelo esforço de adaptação de uma das maiores obras da literatura portuguesa. Pelos vistos, mais tarde vai dar na RTP dividido em quatro episódios, o que, citando o realizador, João Botelho, "é um bom exemplo de serviço púbico", mas eu não aguento. Por isso, querido E., já sabes o que te espera.
E aos meus explicandos do 11º: não, ver o filme não dispensa, de todo, a leitura do livro.